terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Todos os sábados

Ela tinha quatro anos quando foi à escola pela primeira vez. Já sabia ler e era louca para escrever algo além do próprio nome. Naquela segunda-feira, ela foi a única que não chorou. E ainda insistiu para que a mãe fosse embora porque as cadeirinhas não comportavam alguém de 1,63m.

A pequena com dentes de leite foi crescendo, e antes de perdê-los todos, viu que o sábado só acontecia uma vez na semana. Nesse dia não iria à aula, mas teria o pai em casa mesmo depois do café-da-manhã. Ela só lamentava não ter os amiguinhos por perto.

Depois que os cisos nasceram, a menina foi para a faculdade e usava os sábados para dormir até acordar, ficar à toa à tarde e encontrar os amigos à noite. Nem sempre saíam, mas se falavam e se viam, nem que fosse em casa mesmo. Dessa vez, eram os pais que não estavam por lá.

Antes de se formar, ela colocou aparelho nos dentes, mas não arrancou os cisos. Festejou, mordeu o diploma, deixou a cidade que lhe deu profissão e voltou àquela que lhe deu vida. O retorno apresentou uma nova realidade: agora, todos os dias são sábado, sem aula, sem amigos e sem pais. Ficou assim por seis meses até que começou seu primeiro freela. Acreditem ou não, foi no mesmo dia em que tirou o aparelho dos dentes, e era uma baita terça-feira.

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