sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sangue da terra

Sangue quando rega o chão não deixa a terra germinar
Sorriso quando encobre dor não serve pra alegrar.
Gado aqui bebe vento e não rumina tempestade.
Vou-me embora,meu senhor, mais me espera na cidade.

Não que seja ruim passar a vida a meditar
Todo dia vejo estrelas, céu sem nuvens e o luar...
Quando então daqui me for, que lembranças terei eu?
Somente da Margarida, minha flor que já morreu.

Dor eu já nem sinto, e ordinário é a mim o calo,
Sementes do abandono que germinam em meu talo.
Meu senhor, o que te prende? Por que vieste aqui me ver?
Direção, farinha, sombra? Que posso te oferecer?

Se queres saber de um velho o que se passa em pensamento
Respondo-te,meu senhor, sem pensar no que argumento:
A vida aqui é muito boa, ela cresce mas se esvai.
Por isso que eu não me pego a proferir sequer um ai.

Tudo o que construímos, o sol um dia há de queimar
Por isso que eu não me prendo a nada aqui deste lugar.
Do jardim só tenho a terra, e do gado só os ossos.
Não me firmo nesse nada de que só herdei destroços.

Aprendi que é inútil contruir o que se vê.
A vitória está por dentro, não na casa de sapê.
Observa, meu senhor, a face seca da criança,
Se lá em cima a falta é d'água, aqui embaixo é de esperança.


(Esse foi um rascunho que encontrei no meu e-mail. É de maio de 2006.)

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