domingo, 10 de outubro de 2010

(Um sobre um campo de batalha)

(Esse texto é parte de um desafio literário. A proposta era escrever um texto inspirado por uma imagem. Ambos podem ser vistos a seguir.)

Por entre os cavaleiros em descanso, ela surge. Suave, gentil, a dançar em silêncio para não despertar os mais cansados; só o estalar da fogueira compunha sua trilha sonora.

Não havia luxúria em sua sensualidade nem nos olhos que dela se embeveciam. A beleza das curvas e da suavidade feminina caía tão reconfortante na aspereza do campo de batalha que ninguém sentiu nada além de frescor. Nenhum som, nenhum desejo, nenhum suspiro. Seus pés, pequenos e esmaltados, esmagavam com toda sua leveza o cansaço do terreno que já não era capaz de absorver o sangue derramado em vão. Os cabelos, ah, os seus cabelos, fugidios e displicentes, exalavam um perfume há muito esquecido.

Doce, bailava por ente homens fatigados, sem esperança e sem água, e eles por instantes tornavam-se insensíveis ao fardo da guerra. Era ela, com sua delicadeza, quem lhes provia o escape daquele mundo repleto de feiúra e ódio gratuito. E eles estavam conscientes disso, ainda que não sorrissem.

Aquela dama, de vestes negras como a morte, anunciava por meio de sua dança que a batalha havia terminado.

Um comentário:

Eliúde Damásio disse...

Ao ler o texto, eu vi se formar um cenário ao redor e dentro da imagem. Incrível! Me deu boas idéias... Parabéns, Manu!